Quando criar é mais sobre escutar do que imaginar
Se tem uma coisa que o design me ensinou, é que criar não é sobre ter ideias geniais, é sobre formular as perguntas certas. Isso ficou ainda mais claro para mim quando estudei Design Thinking e UX Research.
O que mais me marcou foi perceber que, ao contrário do que muita gente pensa, design não é só criação visual ou execução técnica. É investigação, escuta, análise e teste. O bom design nasce da curiosidade: por que isso acontece assim? Quem está vivendo esse problema? Como essa pessoa se sente?
Ah, e no fim do texto compartilho um exemplo de plano de pesquisa, caso você também sinta falta de visualizar o “como começar”.
Design Thinking: um jeito de pensar, não um passo a passo
Design Thinking é muitas vezes visto como um processo com fases rígidas. Mas a verdade é que ele é, antes de tudo, uma abordagem para pensar e resolver problemas complexos com foco nas pessoas.
Ele surgiu quando pesquisadores começaram a estudar como designers criavam soluções, tentando entender o raciocínio por trás de suas decisões criativas. Foi aí que perceberam algo importante: não existe uma única forma de criar, mas há padrões que podem ser estudados, ensinados e aplicados.
Esses padrões se baseiam em três pilares fundamentais:
- Desejabilidade: as pessoas realmente precisam disso?
- Viabilidade: é possível fazer funcionar?
- Factibilidade: temos os meios para realizar?
Quando esses três pontos se encontram, existe uma boa chance de que a solução proposta não seja apenas criativa, mas também útil, prática e desejada.
O Duplo Diamante: um mapa para navegar pela complexidade
Uma das formas mais visuais e úteis de representar esse processo criativo é o modelo do Duplo Diamante. Ele divide o percurso do design em quatro grandes momentos:
1. Descobrir
Antes de tentar resolver qualquer coisa, precisamos entender o problema de verdade. Isso envolve conversar com as pessoas, observar situações reais, e mergulhar no contexto com curiosidade.
2. Definir
Depois de explorar o terreno, é hora de organizar tudo o que foi descoberto e escolher qual problema vale mesmo a pena resolver. Aqui, a clareza é mais importante do que a pressa.
3. Desenvolver
Agora sim, começam os rascunhos, protótipos e testes. É a hora de experimentar e cocriar com outros pontos de vista, afinal, solução boa não nasce no isolamento.
4. Entregar
Por fim, testamos em pequena escala, ajustamos o que for necessário e entregamos algo com mais chance de funcionar; não só tecnicamente, mas emocional e socialmente também.
Esse modelo é útil, mas deve ser adaptado à realidade. Em projetos reais, raramente seguimos etapas na ordem perfeita. E tudo bem. O importante é manter a escuta ativa, o pensamento crítico e a disposição para voltar algumas casas quando necessário.

UX Research: pesquisar não é um luxo; é a base de tudo
Se o Design Thinking é o mapa, o UX Research é a bússola. Ele nos ajuda a navegar com direção. E mais do que isso, impede que a gente resolva o problema errado com uma solução “bonita”.
A pesquisa com usuários é um processo sistemático que busca entender comportamentos, motivações e contextos de uso. E não se trata apenas de ouvir opiniões, trata-se de gerar dados confiáveis que informam decisões de design.
Um bom plano de pesquisa responde perguntas como:
- O que queremos descobrir?
- Como vamos coletar esses dados?
- Em quais contextos e com quais ferramentas?
- Quanto tempo temos e quais são os nossos limites?
Quando bem planejada, a pesquisa nos permite fazer escolhas baseadas em evidências e não em achismos. E isso, para quem trabalha com experiências humanas, faz toda a diferença.
Problemas complexos exigem perguntas melhores
Uma parte que me pegou de jeito foi a reflexão sobre os chamados “problemas perversos” (wicked problems), que aqueles difíceis de definir, com muitas variáveis e sem soluções fáceis.
No design digital, eles estão por toda parte: educação, saúde, desigualdade de acesso, experiências quebradas em sistemas públicos. Não dá pra resolver isso só com intuição ou estética. Precisamos de investigação cuidadosa, múltiplos olhares e disposição para iterar.
Por isso, a relação entre problema e solução precisa ser constantemente revisitada. “Essa ideia realmente responde ao que foi descoberto?”. Essa pergunta deveria estar colada na tela de todo time de produto.
Um exemplo prático de plano de pesquisa (pra sair um pouco da teoria)
Quando comecei a estudar pesquisa, sentia falta de um exemplo que mostrasse como de fato montar um plano. A teoria parecia fazer sentido, mas o “e agora, por onde eu começo?” me travava.
Aqui vai um modelo simples que você pode adaptar, com um tema que tem tudo a ver com os tempos de hoje: como as pessoas se sentem ao tentar manter o foco em ambientes digitais.
📝 Plano de pesquisa com exemplo de plano possível
1. O que será feito?
- Problema: Muitas pessoas relatam dificuldades de concentração ao trabalhar ou estudar online, mas faltam dados qualitativos que expliquem como e por que isso acontece
- Objetivo: Compreender quais fatores mais impactam a capacidade de foco das pessoas em ambientes digitais e como elas tentam lidar com isso
- Justificativa: Os resultados podem ajudar a criar produtos e interfaces que favoreçam a concentração, com fluxos e elementos visuais que diminuam distrações e interrupções desnecessárias
2. Como? Onde?
- Método de coleta: Formulário online com perguntas abertas e fechadas
- Ferramentas: Google Forms
- Amostra: Pessoas entre 18 e 45 anos que usam computador ou celular para trabalho/estudo por ao menos 4 horas diárias
3. Quando?
- Cronograma:
- Semana 1: estruturação do formulário e envio
- Semana 2: organização e leitura das respostas
- Semana 3: análise e síntese dos dados
4. Quanto?
- Orçamento: Sem custos diretos
- Limitações: Sem contato direto com participantes; respostas dependem da adesão voluntária
Esse exemplo não é de uma pesquisa que eu já executei; mas é algo que me faria muito sentido fazer. E talvez só de estruturá-lo aqui, eu esteja dando o primeiro passo. 😊
✨ No fim das contas, criar soluções melhores exige escutar mais, julgar menos, e assumir que a gente não sabe tudo. E tá tudo bem. Porque é justamente nesse espaço de dúvida que nasce o design mais honesto: aquele que se importa de verdade com quem está do outro lado da tela.
Se esse texto te provocou ou trouxe novas ideias, compartilha com alguém que está nessa mesma jornada de aprender a desenhar soluções com propósito. E se quiser conversar sobre os desafios de pesquisa ou criação, a caixa de comentários tá aberta. 😉
[…] Design Thinking e UX Research: como pensar (e investigar) para criar soluções reaisLá eu compartilho um exemplo de plano de pesquisa pensado especialmente para iniciantes, com linguagem clara e aplicabilidade direta. […]