Antes de propor, escute
Quando comecei a estudar UX Design e ouvi falar de pesquisa, confesso que me senti um pouco perdida. Era como se eu tivesse que encontrar grandes respostas para começar… mas nem sabia quais eram as perguntas certas.
Com o tempo, fui entendendo que a pesquisa em UX Design não precisa começar com grandes aparatos ou números impressionantes. Pode começar com algo bem mais simples: curiosidade e presença. Olhar com atenção, escutar com intenção, se perguntar de verdade: o que essa pessoa está tentando fazer? O que está funcionando? O que está atrapalhando?
É daí que nasce o design com sentido.
O que é pesquisa em UX Design?
Pesquisar é investigar a experiência humana por trás das interfaces. É tentar entender como as pessoas vivem, o que sentem, como tomam decisões; e como nossos produtos influenciam (ou dificultam) tudo isso.
Mais do que levantar dados, é uma forma de cuidado. Sem esse cuidado, corremos o risco de criar algo bonito… mas que não serve pra ninguém.
Tipos de pesquisa: abrindo e fechando o leque
Pesquisa generativa (ou exploratória)
É aquela que acontece no início de um projeto. Serve para entender o problema, o contexto e as pessoas envolvidas. É como abrir o leque: escutar antes de propor, observar antes de desenhar.
Ela ajuda a gerar ideias, a identificar necessidades reais, a descobrir oportunidades que talvez nem fossem percebidas sem uma escuta mais profunda.
Técnicas comuns
- Entrevistas abertas
- Observação em contexto
- Diário de uso
- Desk research
Pesquisa avaliativa
Acontece quando já existe uma solução ou protótipo. Aqui, o foco é avaliar se aquilo está funcionando, se faz sentido, se resolve o problema. É o momento de fechar o leque, testar, refinar e validar.
Técnicas comuns
- Testes de usabilidade
- Enquetes rápidas
- Análise de métricas
- Card sorting
Quantitativa e qualitativa: dados que se complementam
Quantitativa
Pense em números, gráficos e estatísticas. Ela ajuda a entender o que está acontecendo e com qual frequência. Por exemplo: quantas pessoas clicaram em determinado botão ou quantos usuários abandonaram um carrinho.
Qualitativa
Aqui a gente mergulha mais fundo. É sobre entender o porquê e o como. Quais foram os sentimentos, dúvidas ou frustrações que levaram alguém a abandonar aquele carrinho? Quais obstáculos surgiram no caminho?
💡 Dica prática
Muitas vezes, essas abordagens se complementam. A quantitativa mostra o padrão. A qualitativa mostra o significado. Uma ajuda a localizar o problema. A outra, a compreendê-lo.
Atitudinal e comportamental: o que dizem X o que fazem
Atitudinal
Foca no que as pessoas dizem que pensam ou sentem. Questionários, enquetes e grupos de discussão se encaixam aqui.
Comportamental
Observa o que as pessoas realmente fazem. Testes de usabilidade, mapas de calor e gravações de sessão nos mostram ações reais, muitas vezes diferentes do que é dito.
💡 Dica prática
Às vezes, o que dizemos é diferente do que fazemos. Combinar essas duas visões revela lacunas, hábitos ocultos e oportunidades valiosas de melhoria.
Métodos acessíveis para começar agora
Desk Research (pesquisa secundária)
É quando usamos dados e informações que já existem. Pode ser um artigo acadêmico, um relatório de mercado, uma pesquisa do IBGE ou até… os comentários nas avaliações de aplicativos.
💡 Exemplo prático
Se você está criando um app para organização pessoal, ler os comentários de apps similares pode revelar frustrações, desejos não atendidos, formas de uso e até o vocabulário que as pessoas usam para descrever suas dores.
Observação em contexto
Aqui, o foco é ver alguém usando um produto ou realizando uma tarefa no ambiente em que isso acontece naturalmente. Pode ser uma mãe usando um app de receitas na cozinha ou alguém tentando comprar uma passagem pelo celular no ônibus.
💡 Dica prática
Peça permissão e observe com cuidado. Os “jeitinhos” que as pessoas desenvolvem para contornar uma dificuldade são fontes riquíssimas de insight.
Enquetes e questionários rápidos
São ótimos para obter um panorama rápido sobre preferências ou comportamentos. Funcionam melhor com perguntas diretas, de múltipla escolha ou curtas.
💡 Dica prática
Use ferramentas como Google Forms. Foque em poucas perguntas bem pensadas. Divulgue em grupos onde seu público possa estar.
Diário de uso
Peça para alguém registrar suas interações com um produto ou serviço ao longo de alguns dias. É uma forma de acompanhar experiências reais, com seus altos e baixos.
💡 Dica prática
Ofereça perguntas-gatilho como: “O que você fez hoje com o app?”, “Houve algo que te irritou?”, “Teve algo que te surpreendeu positivamente?”.
Um plano pode (e deve) te guiar
Se você sente que precisa de mais estrutura para começar, recomendo esse outro texto aqui do blog:
Design Thinking e UX Research: como pensar (e investigar) para criar soluções reais
Lá eu compartilho um exemplo de plano de pesquisa pensado especialmente para iniciantes, com linguagem clara e aplicabilidade direta.
✨ Mais do que técnica, a pesquisa em UX Design é uma forma de acolher o outro. É sair do piloto automático, sair do “achismo” e voltar a olhar para o que importa: as pessoas, suas histórias e os contextos onde tudo acontece.
Se esse texto te trouxe alguma faísca, compartilha com alguém que também está tentando criar com mais propósito. E se quiser trocar ideia sobre os desafios de aprender UX de forma mais humana e menos corrida, estou por aqui. A caixa de comentários tá aberta. 😉