A vida, com sua habilidade de nos surpreender, nos faz parar em lugares onde nunca pensamos estar.
Deixar seu país não é fácil. Deixar sua casa, ou pior, vendê-la. Deixar sua família, seus amigos. Deixar sua cidade, aqueles lugares que você conhece como a palma da mão. Não é fácil!
Entre tantas dificuldades, a maior delas é deixar para trás sua língua materna. O conforto de se fazer entender, de entender os outros, mesmo que nem sempre. As gírias que têm sabor, as brincadeiras cheias de sentido, os sotaques, os trava-línguas. Tudo o que é vivo e pulsa na sua língua materna.
Deixar seu país não é fácil. As adaptações são constantes. Do clima ao colchão. Da comida ao trânsito. Dos costumes às roupas. E adaptar-se cansa. O nariz sangra no frio, o rosto arde no calor, e a alergia, essa, sempre ataca. Os insetos parecem notar sua presença de longe. Pedalar e conversar ao mesmo tempo? Melhor evitar. O sabor das comidas é estranho, o jeito de viver, de cuidar do corpo, parece sempre diferente.
Deixar seu país não é fácil. Você vai se ver diante de paisagens que seus olhos ainda não aprenderam a ler. Estações que mudam tudo ao seu redor. Gente que fala línguas que você nunca ouviu, que se cumprimenta de formas que você nunca viu. A memória te desafia. A atenção não descansa. Travas aparecem onde antes tudo fluía com naturalidade.
Deixar seu país não é fácil. Abandonar o conforto e encarar o desconhecido. Tudo é novo, absolutamente novo. Assusta? Sem dúvida! Mas também encanta. Cada estação marca a paisagem com uma beleza que preenche o olhar e o coração. Você conhece pessoas que vêm de cantos do mundo que antes só existiam no mapa. Histórias que parecem ficção, paisagens que parecem sonhos e pessoas que são únicas.
Deixar seu país não é fácil. É como deixar a casa da mãe. Você sabe que, se der tudo errado, há um lugar para voltar. Mas você faz de tudo para que isso não aconteça, porque sua mãe já deu outro destino ao seu quarto e o que resta é um sofá desconfortável, pro caso de você passar uma noite.
Deixar seu país não é fácil. Mas é assim que você descobre que é capaz de muito mais. Descobre que o mundo, antes tão grande, pode ser seu. Basta querer e fazer acontecer.
Deixar seu país não é fácil. Mas talvez seja essa dificuldade que te transforma. O que antes parecia estranho, com o tempo, ganha familiaridade. E o que antes era casa, agora se mistura com novas raízes, novas histórias e lembranças. Aos poucos, você percebe que não deixou seu país, mas o carrega com você em cada gesto, em cada palavra trocada com desconhecidos que se tornam amigos, em cada nova experiência que te lembra o que foi e o que será.
Deixar seu país não é fácil, mas talvez seja a forma mais profunda de se reencontrar.
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