Uma viagem ao parque do Zé Colmeia (que existe de verdade)
Confesso: por boa parte da minha vida, achei que Yellowstone morava apenas nos desenhos do Zé Colmeia (ou Yogi Bear, como é chamado aqui nos EUA). Para mim, era o cenário fictício das aventuras dele e do Catatau, sempre fugindo do Guarda Smith.
Até que, num dia conversando com meu marido, descobri que esse santuário da natureza – o primeiro parque nacional do mundo, lar de gêiseres, bisões e de um frio que corta o ar – estava a “apenas” oito horas de carro da nossa casa, em Idaho.

O plano nasceu ali, sem muita cerimônia: iríamos acampar em Yellowstone no próximo verão.
O que eu não sabia é que essa viagem seria muito mais do que ver paisagens incríveis. Seria uma lição silenciosa sobre conexão… e, principalmente, sobre o poder de se desconectar.
“Qual é a senha do Wi-Fi?”
A ficha começou a cair já no check-in do nosso campsite. Enquanto eu acompanhava meu marido finalizar o registro, ouvi a mulher ao meu lado perguntar à atendente:
– “Qual é a senha do Wi-Fi?”
A guarda do parque sorriu, quase divertida:
– “Senhora, aqui não há nenhuma conexão com Wi-Fi.”
E não havia mesmo. Nem Wi-Fi, nem 4G, nem qualquer outro G. Por três dias e três noites, meu celular exibiu apenas uma palavra: “Emergência”. Estávamos incomunicáveis com o resto do mundo. A desconexão não foi uma escolha, foi uma condição. E foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.
Quando a tela se apaga, o mundo acende
Sem a distração constante do feed, algo curioso aconteceu: eu simplesmente esqueci que tinha um celular. Ele voltou a ser apenas o que deveria ser – uma câmera para registrar a imensidão e um mapa para nos guiar. Nos outros momentos, não existia.
E no espaço que ele deixou, o mundo real apareceu.
1. Meus sentidos voltaram
Vimos a força da Terra nos gêiseres e o arco-íris nos prismas de Hot Springs. Sentimos o cheiro do mato depois de uma noite fria e o calor do sol da tarde. Sentimos o medo real de encontrar um urso, que é muito diferente do medo abstrato de perder uma notícia.
Mas o que mais me marcou foi ouvir.
O canto dos pássaros nas manhãs que começavam devagar. Ouvi os corvos com seus grasnados que soavam como risadas, zombando da nossa pressa humana. À noite, o silêncio era tão profundo que o céu parecia se abrir, revelando estrelas cadentes que riscavam a escuridão.

2. O tempo de qualidade se tornou apenas… tempo
Eu e meu marido já temos o hábito de deixar o celular de lado quando estamos juntos. Mas ali não existia sequer a possibilidade da interrupção. Não havia “só vou checar uma coisinha”.
O tempo era inteiro. Feito de conversas longas, silêncios bons e a presença física e emocional um do outro. Um lembrete simples, mas urgente: a melhor conexão acontece quando todas as outras são desligadas.
A volta e a ansiedade
Ao final do terceiro dia, pegamos a estrada e as primeiras barras de sinal começaram a piscar na tela. Senti uma resistência física em voltar. Logo depois, aquela avalanche: notificações, mensagens, e-mails.
A ansiedade bateu.
Mas, passada a euforia inicial, a pergunta veio: o que eu realmente perdi nesses três dias?
A resposta foi simples e poderosa: absolutamente nada!
Ninguém precisou de mim com urgência. Nenhuma notícia mudou o rumo da história. O mundo continuou girando, perfeitamente bem, sem minha participação digital.
Eu não perdi nada. Eu ganhei.
Ganhei olhares longos para o horizonte em vez de rolagens curtas para baixo. Ganhei conhecimento que vem da observação e não do excesso de informação. Ganhei mais vida, porque estive 100% presente nela.






Como trazer um pouco de Yellowstone para a vida diária
A volta para casa foi um choque, mas também um ponto de virada. Ao ver as notificações invadindo minha tela, tomei uma decisão: excluí o TikTok e o Threads. O Instagram, deletei e mas reinstalei algumas vezes, até encontrar um uso mais intencional (principalmente no computador).
Também criei dois hábitos simples que têm feito toda a diferença:
- Celular longe da cama: agora ele dorme em outro cômodo. Nada de checar notificações antes mesmo de levantar.
- Toque de recolher digital: depois das 22h, modo avião. A noite voltou a ser espaço de descanso e conexão real.
A gente não precisa ir até Yellowstone para encontrar essa paz.
A desconexão não nos tira do mundo; ela nos devolve a ele.
E, mais importante, nos devolve a nós mesmos.
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